Thursday, April 28, 2011

Estrada de sangue

Este pesadelo só deve encontrar paralelo com aquele que tive em Março de 2007 e que continua a figurar como sendo o pior que tive ao longo de toda a minha vida (ver texto “Foi horrível”). Também o ano passado cheguei a ter outro pesadelo (em Junho, penso eu) que também não se ficou atrás. Este ainda hoje me acompanha, especialmente a imagem da estrada e o som dos gritos da minha mãe a implorar que me afastasse dali.

Comecemos a narrar este sonho que até começou algo inofensivo e se veio a transformar nisto que ainda hoje, alguns dias passados, me arrepia só de relembrar. O facto de me ter deitado por cima da roupa e de ter tido um sono agitado devido à febre podem explicar isto. Deu para incomodar e muito.

Sonhei que a minha irmã tinha comprado uma casa assombrada do estilo do hotel do livro do Stephen King. Aquilo era simplesmente...o Coimbra Shoping.

Agora estou sentada na sala a fazer zaping à televisão. Num dos canais dava aquela imagem fixa com música de antigamente. Noutro canal dava uma novela com muitas crianças como protagonistas. Havia um bebé que estava completamente nu e o protagonista era um miúdo aí com uns dez anos que envergava uma camisola do Benfica do Aimar. A cena passava-se numa escola onde uma terceira criança de nome Ricardo chorava, alegadamente, por ter de mudar de escola e ter de deixar os seus amigos.

Voltei a mudar de canal. Ali davam provas desportivas variadas. Havia uma prova de Ciclismo-Tandem em que Carlos Ferreira (tinha trocado o Atletismo pelo Ciclismo) e o seu guia caíram, levantaram-se e venceram. Então já havia equipas tandem em Portugal? Tinha de começar a andar de bicicleta a todo o custo.

Agora começa a parte crítica deste sonho! Encontro-me na casa de forno onde a minha mãe conversava com a Senhora Justina. Penso que elas estavam a depenar frangos. A luz estava apagada. Envergava o meu velho fato de treino verde e uns chinelos azuis-bebé que já não tenho. Andei com eles rotos até à última e era assim que eles também estavam no sonho. Este pormenor dos chinelos é incrivelmente importante. Já vão ver!

A conversa foi interrompida por um barulho típico de viaturas a chocarem. Alguns segundos depois já se ouviam as ambulâncias e demais viaturas que possuem alarme. Na realidade não seria tão rápido, o socorro às vítimas, mas isto é um sonho e ainda bem que o é, apesar de ter um realismo impressionante.

O acidente era acima de minha casa, junto ao campo onde costuma estar a madeira e onde se deu o incêndio em 2008. Os veículos envolvidos eram uma camioneta branca de caixa aberta conduzida por um homem de meia-idade e um carro vermelho em que seguiam duas mulheres, alegadamente mãe e filha. A ocupante mais nova chamava-se Márcia. Não conhecia nenhum dos envolvidos.

Por curiosidade, fui ver o acidente que terá sido provocado por lama e pedaços de madeira que terão resvalado para a estrada. Estranhei o facto de estar ali apenas e só um carro de bombeiros daqueles dos incêndios que largava imensa água. Em contacto com sangue, essa água inundava a estrada numa espécie de rio vermelho. Um cenário que antevia o pior.

Sentia a água a entrar pelos buracos dos chinelos e a molhar-me os pés. A sensação era incrivelmente real. Já tinha os pés submersos naquele charco horrível. Vendo o que se estava a passar, a minha mãe gritou-me de uma forma quase histérica para que saíssemos dali e nos fôssemos embora imediatamente. Aquela imagem aterradora e os gritos de desespero e súplica da minha mãe ainda hoje me causam arrepios. Parece mesmo que vivi aquilo intensamente, as sensações eram reais e isso é que impressiona. Aquele final de tarde, o aparato de um acidente, a água a invadir os meus pés desprotegidos, os gritos lancinantes da minha mãe...

A senhora mais velha das que ocupavam o veículo ligeiro saiu amparada pelos bombeiros na direcção da berma da estrada contrária a minha casa. Apesar de já ser quase noite, pude ver que se tratava de uma senhora de cabelos brancos Dava sinais de estar algo nauseada, pronta para se desfazer em vómitos.

A outra ocupante do mesmo veículo, uma mulher que aparentava ter cerca de trinta anos, saiu da viatura logo de seguida, exibindo o sobrolho aberto e a sangrar abundantemente. O sangue que era visível na estrada jorrara dali e parecia mais em contacto com a água.

Do condutor da camioneta não há registo mas parece que nem ferimentos sofreu. O carro vermelho é que estava destruído. Apesar de todo o aparato, de toda a sangria, houve apenas feridos ligeiros a registar.

Depois de ter os pés molhados pela água sangrenta que corria na estrada, vá-se lá saber por que saltei o muro da eira e não entrei pelo portão. Se era para não molhar os pés, então era tarde de mais. Um pormenor; hoje em dia, é impossível saltar aquele muro porque tem grades em toda a volta. No sonho não tinha e por isso foi possível saltar.

Quando saltei, a eira estava cheia de galhos e de lenha. Quase me magoava. Fiquei ali parada. A ambulância do INEM passava para baixo com as luzes ligadas mas sem alarme. Imediatamente a seguir à passagem da ambulância com as vítimas daquele acidente, ia havendo outro acidente no mesmo local. A estrada tinha ficado mais molhada e mais perigosa.

Fui então para casa. Observava a Feijoa enroscada num saco de farinha.

Acordei aliviada por nada daquilo se ter passado na realidade mas a crise de ansiedade dominava-me. Eram cinco da manhã. Pouco ou nada dormi. Não tinha febre mas os sintomas de dias anteriores ainda se faziam sentir. Atribuo isto aos nervos e à ansiedade crescente por todas as indecisões da minha vida. O medo de chegar ali e as coisas correrem mal é imenso.

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